Quando era adolescente, lembro-me de um dia na escola ver uma amiga muito triste, chorando. Um primo dela, que devia ter uns 16 ou 17 anos, havia falecido em um acidente de carro. Ainda naquela semana tive a oportunidade de conhecer a mãe daquele jovem e saber melhor sobre a história.
Como me contou, o rapaz tinha saído com os seus amigos para ir numa festa e na volta o carro em que estava havia capotado, vitimando ele e outros jovens. Durante muitos anos, sempre que passava naquele lugar, me lembrava de seu acidente. Não conhecia o rapaz e a lembrança não era de alguém que perdeu alguém próximo. Não, não era esse o caso! Era por empatia mesmo. O fato de ser uma pessoa jovem, em idade escolar, que entristeceu pessoas próximas, em uma via conhecida etc., tudo isso me colocou naquela situação como se também pertencesse a mim. Resumindo, tinha aquela sensação do “podia ser eu”.
Lembro-me que no dia em que recebi o diagnóstico de EM, me lembrei dessa história. Não me revoltei com o que o médico revelava ou me perguntei “por que eu?”, mas agradeci por ter tempo de aprender sobre essa nova situação e de não ter a vida ceifada tão abruptamente. Não estou dizendo que viver com uma doença crônica seja fácil e que às vezes não traga infelicidade, mas não deixa de ser uma oportunidade desafiadora para que você e as pessoas à sua volta aprendam com isso.
Esse post não estava programado de início; uma parte III não fazia parte dos planos. No entanto, muitas coisas aconteceram de dezembro pra cá e que me fizeram ter necessidade de escrevê-lo. Primeiro, eu e a Bruna tivemos um filho; um amor que existe, independente de conteúdo. Simplesmente é. Não preciso nem dizer que minha fixação atual sobre “forma e conteúdo” remete a esses dias, né?.
O segundo ponto se deve ao cuidado que a Bruna despende ao Francisco. Vejo uma entrega total e me entristeço por nem sempre conseguir estar perto. E vendo a Bruna com o Francisco voltei para um tempo sem consciência. Quando eu mesmo era aquela criança que exigia cuidados, e me senti muito agradecido por todos que me cuidaram e em especial minha mãe, que por sinal continua cuidando de mim ainda hoje com as dificuldades trazidas pela EM. No entanto, agora mais velho e vivido, sinto que posso contribuir com algo.
A terceira questão veio por causa de uma queda. Quem acompanha o EM e o Bebê sabe que dei uma piorada pouco antes do Francisco nascer e na semana que ele veio pra casa, tentando me levantar bati o rosto no vaso sanitário. O que me custou um olho roxo. Desde aquele dia, uma chave em mim mudou. Talvez a EM não ceifasse minha vida abruptamente, mas algo além dos meus limites poderia. Senão tivesse tentado me levantar sem firmeza nas pernas nada disso teria acontecido, me machucando e deixando todos preocupados.
Desde então eu passei a me perguntar: o que eu posso fazer para ajudar aqueles que cuidam de mim? Desde então fiquei viciado nos textos da Geisa, reli os textos que escrevi sobre ação e cuidado, que me foram úteis para pensar como poderia ajudar a Bruna. E me fiz a pergunta mais especificamente: como posso ajudar a minha mãe?
A verdade é que percebi que nenhuma mãe está preparada para um problema com seu filho. E despreparo não significa que nada será feito se algo inesperado acontecer. Percebi isso quando vi na minha mãe o mesmo olhar, quando estou mal ou parecendo cair, que eu tenho quando o Francisco não para de chorar ou parece estar incomodado com algo. Me sinto culpado por não conseguir dar mais suporte ao meu filho, mas se a culpa é irrecusável, o veredito é.
Então, mãe, não se sinta culpada por não conseguir segurar um homem de 75 Kg ou por não saber ao certo que membro mexer para me estabilizar. Estamos aqui para aprender: os dois. Tenho achado uma das virtudes mais belas a paciência para ensinar e aprender. Estava pensando nesse post, rascunhando algumas anotações e me lembrei daquela história do acidente. Bom, a EM não ceifou minha vida abruptamente. É um diagnóstico e nem sempre será fácil. Mas teremos a oportunidade de aprender, ensinar e se adaptar: a vida é longa.
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Logo depois que terminei as anotações, surgiu na minha timeline no Facebook, o vídeo do Marcos Piangers… Fui ver e chorei horrores! Vejam!
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