Ultimamente tenho refletido sobre minha dupla personalidade. Demorei muito tempo para me dar conta da existência delas e chegar a essa consciência me trouxe alguns benefícios. Além de aumentar o meu autoconhecimento, ainda descobri um recurso valioso para os meus processos terapêuticos na luta contra a depressão.
Meu nome de nascimento é Kátia Güttler. Assim fui registrada e essa é a pessoa que eu sou. Mas aos 34 anos eu sofri duas mutações importantes na minha vida: a primeira foi a oficialização do meu casamento que já existia de fato há 12 anos, mas só então passou a existir também de direito, com a realização da cerimônia religiosa e também civil. Passei a assinar o sobrenome do marido, adicionando o Siqueira à minha personalidade. O outro evento mutante, ocorrido pouco tempo depois, foi o diagnóstico da EM.
Quatro anos mais tarde, eu tinha (além da mudança de estado civil e sobrenome e de um diagnóstico difícil de assimilar, compreender, digerir e aceitar), três bebês pequenos, quase nenhuma ajuda e uma logística muito ruim pra me dar suporte. Quando minha caçula nasceu, as gêmeas recém davam os primeiros passos e ainda usariam fraldas por muito tempo. Eu tinha 3 bebês e dois braços. Foi difícil administrar. Devido à questões de saúde das crianças, condições meteorológicas do período, minha própria condição de saúde física e psicológica e da minha já citada falta de logística adequada, num determinado momento, fiquei 4 meses sem sair de casa, nem pra colocar o lixo na rua.
Eu estava no ponto de enlouquecer, quando resolvi escrever para dar vazão aos meus sentimentos e conflitos e criei meu primeiro blog.
Foi um processo lento, tímido. Sabia da minha facilidade com as palavras, mas tinha (e ainda tenho) muitas dúvidas sobre minha capacidade de juntá-las da forma adequada para dar forma ao que eu queria transmitir. E se alguém se interessaria minimamente em ler o que eu tinha pra dizer. Foi quando nasceu minha outra personalidade: ressuscitando um apelido dos tempos da escola, TUKA, que nem era lá muito popular e por isso conhecido apenas por um seleto grupo de amigos e juntando ao sobrenome recentemente adquirido e ainda pouco assimilado como parte integrante de minha pessoa (cachorro velho até aprende truque novo, mas demoooora), me tornei a Tuka Siqueira.
Um peudônimo, um alter ego, um outro eu. Um nome diferente pra esconder a vergonha que eu tava sentindo de me expor. Mas que ganhou força, conquistou poucos, mas leais admiradores que com o tempo se tornaram amigos. Tenho orgulho de cada amigo que conquistei sendo Tuka ao longo desses 7 anos. E de ouvir de muitos amigos, já habituados a me chamar de Kátia, começarem a me chamar de Tuka, assim como me orgulho daqueles que resistem à novidade e se mantém fiéis ao meu nome original.
O blog mudou de nome algumas vezes, mudou de cara muitas vezes, foi e voltou, até que decidi por fechá-lo. Foi uma decisão difícil, pois ele foi meu amigo e minha salvação, mas eu não estava dando a ele a atenção que merecia. Ele continua lá onde sempre esteve, apenas não está mais disponível para o público. Optei por concentrar minha energia aqui no blog da AME e espero que essa decisão resulte em textos cada vez melhores para vocês.
No fundo, Kátia Güttler e Tuka Siqueira são a mesma pessoa. Uma única pessoa em diferentes fases da sua vida, diferentes níveis de evolução, aprendizado, caminhada. Mas que se fundem em vários momentos, por sua essência. A Tuka surgiu para ajudar a Kátia a aprender, compreender, aceitar, evoluir. E seguem juntas, de mãos dadas.