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Saí das redes sociais… e agora?

Tomei a decisão de sair das redes sociais em meio a um momento muito difícil da minha vida. Já não me sentia conectada a mim mesma há algum tempo. Desde que percebi isso, notei que essa brincadeira dos dias atuais na qual estamos mega conectados o tempo todo, com todas as informações que nos atingem em uma velocidade avassaladora, não tem um pingo de graça.

Por mais difícil que tenha sido dar esse passo em direção a minha saúde mental, abrir mão daquilo que amo – sim, eu amo tecnologia e redes sociais, porque me aproximam de coisas que eu realmente adoro – foi, certamente, a melhor coisa que fiz para mim mesma nos últimos anos. Sinto, no entanto, que estou em processo de reabilitação. E perceber isso me deu clareza do tamanho do problema que eu estava imersa; é realmente um vício.

Já observava em mim uma grande dificuldade de ter foco nas coisas. Por mais que, às vezes, eu tendesse a achar que se tratava de parte do meu diagnóstico, que era a esclerose tomando conta do meu cérebro ou sintomas de um TDAH não identificado, o hábito de nunca conseguir fazer uma coisa só era, na verdade, mais óbvio que isso.

Essa dependência, essa necessidade, me perdoem a expressão, ridícula, de estar a parte de tudo o tempo todo foi aos poucos se transformando em algo tão incontrolável que mesmo eu, com longos anos de terapia “em dia”, tinha imensa dificuldade de assimilar.

Eu tenho problemas com redes sociais

Mentalmente exausta, vivendo um processo doloroso de repetidas negativas do plano de saúde em conceder minha medicação do tratamento da EM, afastamento do trabalho, novos sintomas físicos para lidar, reconhecer meu corpo em falha e muitas, mas muitas, portas fechadas. A ansiedade e depressão começaram a se instalar novamente em mim, de uma maneira assustadora.

Você pode se perguntar o que uma coisa tem a ver com a outra. Eu te afirmo, com toda a certeza, que após esse “detox”, eu tenho plena convicção que a resposta é: TUDO. A felicidade agora é que voltei a ter tempo de apreciar. Simples assim. Mesmo ainda cedendo aos grandes desafios cognitivos da Esclerose Múltipla, consigo me dedicar a longos períodos de leitura prazerosa, por exemplo, sem me render às olhadinhas infinitas.

Ver um filme ou uma série deixou de ser um processo difícil, pois não preciso ficar indo e voltando na história diversas vezes porque me perdi durante uma rodada nas redes. Deitar na cama voltou a ser só um deitar na cama.

Os pés para o alto na rede voltaram a ser só pés para o alto na rede. Escrever um texto como este voltou a ser só um processo de escrita, sem idas e vindas em sites e aplicativos durante o todo. O fluxo infindável: caixa de entrada do E-mail – Instagram – Facebook – Aplicativo de notícias – Twitter – Globo.com – WhatsApp – Stories – e começa de novo, para mim, chegou finalmente ao fim.

Obs.: Sim, eu tinha uma rotina e me sentia extremamente irritada quando não conseguia, por algum motivo, completá-la.

E agora?

Ainda ontem me questionei se não consigo, com equilíbrio, voltar. Mas incisivamente me respondi: não.

O medo de perder o controle é a primeira prova que ainda não é o momento certo.

E o mais engraçado disso tudo é perceber no meio do caminho que um número esmagador de mulheres que admiro passaram pelo mesmíssimo processo. Algumas delas nunca mais sequer deram as caras no mundo virtual.

Bom, para finalizar hoje, eu não desejo que você se desconecte. Eu desejo que você se encontre! E se para isso for necessário desligar um pouco as redes sociais, que o faça sem medo de ser feliz.

Iria estar mentindo se fosse dizer que vai ser fácil. Talvez seja uma das coisas mais difíceis que fiz na vida. Mas é, de fato, o que tem de ser feito. E ser adulto, no final das contas, é um pouco disso: diariamente fazer aquilo que precisa ser feito.

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