Quebrando tabus: Já se perguntou por que, quando falamos de sexualidade, ainda há tanta hesitação em reconhecer que pessoas com deficiência também sentem desejo, prazer e vivem a sexualidade plenamente? É como se o mundo, com suas percepções estreitas, nos colocasse em um pedestal de fragilidade, como se a deficiência apagasse nossa capacidade de sentir, de desejar, de buscar intimidade.
A sexualidade das pessoas com deficiência ainda é um território rodeado por suposições e estigmas, como se o fato de ter uma deficiência anulasse, de alguma forma, o desejo e o prazer. É um equívoco comum que muitos enfrentam: esse olhar infantilizado que insiste em nos ver como figuras frágeis, destituídas de libido ou autonomia sobre nossos corpos. É como se a deficiência apagasse a complexidade humana, reduzindo-nos a uma caricatura do que é “normal”. Mas a verdade é que a sexualidade de uma pessoa com deficiência é tão rica e multifacetada quanto a de qualquer outra pessoa.
Nosso desejo, nosso prazer e nossa capacidade de conexão não são restritos pela deficiência. O prazer, afinal, não se limita ao que é visível. Ele não está preso a corpos que se movem sem dificuldade; mas vive na essência humana, na necessidade universal de afeto, intimidade e expressão. E nós, pessoas com deficiência, vivemos essa experiência tão plenamente quanto qualquer outra pessoa, ainda que de maneiras diferentes. Sim, a sexualidade pode exigir adaptações. Ela pode pedir que sejamos criativos, que exploremos o prazer de formas únicas, mas isso só enriquece a experiência – não a diminui.
Quebrando tabus…
O problema é que essa visão limitada nos priva de algo fundamental: a liberdade de existir plenamente. Muitos de nós já enfrentaram olhares condescendentes, ou até a surpresa de outros ao descobrirem que somos sexualmente ativos. Há uma presunção de que nossos corpos não sentem, de que não precisamos ou não desejamos, como se nosso valor estivesse restrito ao que podemos fazer de forma prática e funcional. Mas a sexualidade vai muito além da funcionalidade. Ela é sobre o contato, a troca, o sentir – e essas coisas não se apagam por causa de uma deficiência.
Ser visto e tratado como alguém que não tem capacidade de sentir desejo ou de proporcionar prazer é não apenas injusto, mas profundamente desrespeitoso. E é uma prova do quanto ainda temos que caminhar, como sociedade, para entender que pessoas com deficiência são, antes de tudo, pessoas. Pessoas que amam, que têm relacionamentos profundos, que se casam, que compartilham a intimidade com quem amam. Pessoas que exploram a sexualidade com a mesma curiosidade e o mesmo ímpeto de qualquer outro ser humano.
É importante que a sociedade entenda que pessoas com deficiência vivem suas sexualidades com autenticidade e que, muitas vezes, encontraram formas criativas e singulares de viver o prazer. Temos, como qualquer pessoa, nossas particularidades, nossos desejos, e nossa maneira de expressá-los. Para alguns, é um prazer tranquilo; para outros, um desejo mais intenso, mas isso é universal e independe da condição física.
Então, a questão que precisamos levantar é: quando vamos parar de reduzir as pessoas com deficiência a algo menos do que seres humanos completos?