Você já parou para pensar no que realmente nos impede de viver?
Não estou falando dos obstáculos óbvios, das dificuldades que podemos ver, mas falo daquelas barreiras invisíveis, aquelas que erguemos por medo, por insegurança ou até pela ideia de que é melhor “ficar na zona de conforto” — mesmo que ela nos aprisione. O que nos impede de amar sem reservas? De nos jogar no desconhecido? O tempo, esse tirano silencioso, não espera. Ele passa, não se importa com nossas dúvidas e leva consigo cada segundo que deixamos escapar. Por que estamos, então, sempre tentando segurar as rédeas de algo que nunca podemos controlar? Por que temos tanto medo de viver de verdade?
Desde o diagnóstico da esclerose múltipla, a vida que eu conhecia se transformou diante dos meus olhos, como uma fotografia borrada que não consigo mais reconstruir. A cada novo dia, eu me vejo encarando as limitações do meu corpo, mas, mais do que isso, o maior desafio foi encarar as limitações que eu mesma impus à minha mente e ao meu coração.
E o medo… ah, o medo. Ele se tornou um companheiro constante, não convidado, mas implacável. Medo de falhar, de não ser suficiente, de não ser capaz de viver da forma que imaginava. Às vezes, sinto que o medo nos tira a liberdade de viver, porque ele nos convence de que precisamos estar sempre prontos, no controle, sendo perfeitos. E, quando não estamos, ele nos paralisa. O medo de não ser “normal”, de não conseguir, de não corresponder às expectativas que, na verdade, nós mesmos criamos.
O verdadeiro medo
É irônico pensar que, apesar das tantas limitações físicas impostas pela esclerose múltipla, o medo que mais me aprisiona não é o de não conseguir fazer algo fisicamente. O verdadeiro medo é o “medo de não ser inteira, de não ser completa, de não viver com toda a intensidade que a vida oferece”. E por que não? Por que deixar que uma palavra — “limitação” — se torne sinônimo de incapacidade? Por que permitir que o medo dite as regras da nossa vida?
Então, questiono constantemente: estou realmente vivendo, ou apenas passando os dias, como se estivesse assistindo a um filme sobre minha vida, mas sem participar ativamente dele? O tempo não espera, ele segue, não volta. Ele avança sem pedir permissão, mas eu não posso esperar pela “hora certa” de ser quem sou.
Se a vida é curta, por que adiá-la? Por que temer o erro quando ele é uma parte essencial do processo? Cada erro, cada queda, é uma chance de aprendizado. Cada vez que caímos, temos a oportunidade de nos levantar e, mais importante, de redescobrir nossa força.
Recomeçar
E recomeçar… Ah, o recomeço! Talvez essa seja a prova mais genuína de que acreditamos na vida e em nós mesmos. Porque, quando temos coragem de recomeçar, mostramos ao mundo que, apesar das cicatrizes e das quedas, ainda acreditamos na nossa capacidade de fazer acontecer. Recomeçar é um ato de resistência, um grito silencioso de que, mesmo com todas as adversidades, seguimos em frente.
Sim, todos nós vamos morrer — essa é a única certeza que temos. Mas, até lá, o que vamos fazer com o tempo que nos resta? Vamos deixar que ele escorra entre nossos dedos enquanto esperamos por uma vida “perfeita”? Ou vamos ousar viver, errar, rir, amar e fazer o possível para aproveitar ao máximo cada momento, sem medo de arriscar? Porque talvez o maior erro seja justamente esse: esperar pela perfeição, quando a verdadeira beleza da vida está na nossa capacidade de sentir, de aprender, de se reinventar.
Então, o que estamos esperando? Por que não nos permitimos mais? Por que não nos lançamos, de vez em quando, na incerteza, abraçando o desconhecido com coragem, deixando o medo para trás, nem que seja por um momento? Afinal, o que estamos realmente protegendo? Que tal, ao menos uma vez, abandonar o controle ilusório e ver onde a vida nos leva? Porque, no final, viver é isso: uma vida imperfeita, imprevisível e, ainda assim, absolutamente extraordinária.