Às vezes, por causa de um banheiro, calçada ou ambiente não acessível, frequentemente as pessoas, indignadas, me dizem: que absurdo! Acessibilidade é um direito seu. No que, sem querer ser chato e com a certeza de que não serei completamente compreendido, respondo: não, não! Acessibilidade não é um direito, mas uma concepção.
Sem querer entrar nas discussões de que um direito previsto em lei não garante e não confirma sua existência real. E sem querer desmerecer a importância de uma legislação que conduza e pressione a adoção de políticas públicas que possibilitem a igualdade de condições. A intenção desse texto é justamente falar das tentativas de estabelecimentos e instituições de se adequarem às leis, mas que realizaram adaptações que nem sempre funcionam na prática.
Viajando por aí, já tive a oportunidade de frequentar ambientes que apesar de sustentarem o adesivo de um ambiente acessível, não o eram de fato. Certa vez, fui a um banheiro em que encontrei dois problemas: 1) uma cadeira de madeira ao lado do vaso, talvez para uma pessoa colocar a bolsa, mas que precisava ser retirada caso se precisasse entrar com uma cadeira de rodas; e 2) feito isso, a porta simplesmente não fechava com a cadeira de rodas lá dentro. Resultado, tive que fazer xixi de porta aberta. É louvável o reconhecimento de que um estabelecimento deve oferecer acessibilidade, mas às vezes tal fato não passa da boa vontade e vem aquele pensamento: “pô, se preocuparam com isso, gastaram dinheiro com isso, mas não deu certo”.
Por isso, acostumei a dizer: acessibilidade não é um direito. É uma concepção. Outra vez, fui a um banheiro que continha o “selo de acessível”. De fato, o espaço era bom, cabia uma cadeira de rodas, era possível se movimentar lá dentro, tinha as barras de segurança, mas ao sair percebi que o papel higiênico estava colocado em um registro no alto. No caso, consigo ficar em pé se precisasse do papel. Mas e se não conseguisse? Não adianta fazer um ambiente acessível, devido a uma determinação legal, mas não possibilitar uma vivência autônoma para as pessoas com deficiência. Às vezes, atitudes simples bastam, em que é preciso apenas se colocar no lugar do outro.
E teve a vez em que fomos passear de barco (Cisne Branco de Porto Alegre). Ligamos pra lá e nos confirmaram que tinha acessibilidade. Chegando lá, descobrimos que acessibilidade devia ser o nome do rapaz do barco que me carregou, com a cadeira motorizada, barco à dentro. O problema foi a hora de fazer xixi. Evitei tomar água, mas acabei tomando uma cervejiinha e, na hora de ir ao banheiro, era humanamente impossível ir, mesmo no colo de alguém. Resultado: esvaziaram uma área do barco pra eu fazer xixi num copo plástico e atirarmos no rio. Não me culpem pela poluição no Guaíba gente!
Rampas com inclinação inadequada – em que só alguém com poderes sobre-humanos conseguiria subir com uma cadeira de rodas; pisos táteis que dão em paredes, árvores, postes; rampas que dão em bueiros e travam as rodinhas da cadeira; estabelecimentos que se dizem acessíveis, mas não lhe possibilitam ir no banheiro etc. Os exemplos são muitos e que às vezes só são superados com a disponibilidade e esforço de terceiros. No entanto, esses são apenas alguns casos que presenciei. E vocês, o que nos contam? (deixem nos comentários outras situações absurdas que experimentaram).
Fonte: Jota