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Uma das coisas mais importantes que a Esclerose Múltipla me ensinou, certamente, foi a dizer NÃO.

Sempre fui daquelas pessoas que fazem coisas muito além do alcance para agradar aos outros, que não mede esforços para fazer com que o outro se sinta bem: aceitava trabalhos que estavam acima da minha capacidade física e/ou intelectual; dizia sim a convites de amigos que não me agradavam, e era obrigada a inventar desculpas esfarrapadas cada vez que queria dizer um simples e grande não, mas nunca conseguia.

Não pense que essa é uma boa característica minha. Apesar de, em uma primeira impressão, esse traço da minha personalidade me tornar uma excelente pessoa, com o tempo se percebe que não é tão bom assim.

Todo esse altruísmo tende a nos dominar de tal forma, que a tendência é nos anularmos perante os outros. Com o passar dos dias perdemos vontades e sonhos próprios, simplesmente porque desaprendemos a fazer e buscar coisas por nossa conta, aguardando que alguém nos mostre que caminho seguir.

Depois que a Esclerosinha entrou na minha vida, muito vagarosamente, venho aprendendo a dizer não. A colocar minhas vontades e desejos como prioridade. Esse “não” está presente nas situações mais cotidianas, como quando um amigo pede pra que eu fique mais um pouco; quando me convidam para ir a um lugar que não me sinto bem, simplesmente porque é muito quente; quando minha afilhada me pede para carregá-la escada acima; quando me pedem para trabalhar em algo que teria que perder horas estudando para conseguir, ao menos, iniciar.

Entenda que, quando digo não para ficar mais um pouco naquele passeio que já dura três horas, não é porque eu não gosto da sua companhia, mas é que se eu esgotar todas as minhas energias, dificilmente vou conseguir chegar em casa e jantar, tomar banho, preparar meu dia seguinte e só então dormir. Provavelmente me jogaria na cama e acordaria péssima no dia seguinte, perdendo um dia de trabalho, por exemplo.

Quando nego um trabalho que, aparentemente, seria uma grande oportunidade, não é porque tenho medo de desafios e de aprender coisas novas (muito pelo contrário!), mas é que se eu calcular o tempo que vou gastar para dar uma solução para o que você me pediu, gastaria tantas horas e energia para estudar, que possivelmente perderia outros trabalhos tão, ou mais importantes, com os quais tenho mais facilidade.

Hoje tenho que contabilizar minhas forças, colocar na balança cada escolha e oportunidade que surge. Caso contrário, minha fadiga e indisposição vão tomar conta de mim, resultando num novo surto, ou no agravamento de algum dos meus sintomas já existentes.

Não pense que simplesmente me tornei egoísta, pensando só em mim. Na verdade, junto com vários “não”, também vieram inúmeros novos “sim”. Mas para coisas que realmente importam, que me fazem bem!

Digo sim para passar mais tempo com a minha família; para escutar uma boa música; para ir ao cinema ou ao café com amigos; para fazer um novo curso; para brincar de “mamãe e filinha” com a minha afilhada mais vezes por semana (eu sou sempre a filinha!). Antes da Esclerosinha estava muito ocupada fazendo coisas de que não gostava, ou que apenas serviam para agradar o outro, e não tinha tempo para desfrutar desses pequenos e simples prazeres.

Espero que a Esclerose Múltipla continue me dando muitas oportunidades de dizer “não”, mas que também me proporcione muitos outros “sim”. Que me possibilite desfrutar de inúmeras coisas simples, que me façam bem, que não suguem minhas energias.

 

Enquanto estava escrevendo este post me veio um filme na cabeça… Então, #FicaaDica: Sim Senhor!

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