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Oi gente, tudo belezinha?

Vou confessar uma coisa pra vocês: a palavra superação me provoca arrepios e mal estar. Não pela superação em si, mas pela forma como ela é tratada.

Dia desses, vi uma reportagem sobre uma bailarina que teve um pé amputado, mas graças a uma prótese inédita, feita sob medida pra ela, imitando um pé em posição de ponta de balé, pode voltar a exercer sua arte.

Em determinado momento, o texto diz que por causa da prótese, a moça se superou e voltou a dançar. É nesse ponto que eu discordo. Voltar a dançar foi uma vitória, conquistada depois de muitos anos de superações diárias.

Porque só agora, com a prótese, a superação dela virou notícia? Todos os dias em que ela sentiu dor, passou dificuldades para se locomover, sofreu discriminação e preconceito e mesmo assim continuou vivendo, lutando e sonhando em voltar a dançar nunca foram notícia antes?

O peso que se dá a essa palavra é muito grande para quem não tem as mesmas oportunidades. Aposto com vocês que existem muitas outras bailarinas por aí que também sofreram amputação, passaram pelos mesmos perrengues que ela, também continuam sonhando mas nunca serão notícia, nem mesmo seus amigos mais íntimos serão capazes de reconhecer que o fato de não atingirem o objetivo máximo faz delas pessoas que precisarão se superar ainda mais, pois enfrentarão acima de tudo a frustração por não atingirem “a vitória”?

Vamos pensar numa corrida de 100 metros numa olimpíada. Todos os competidores trabalharam duro, treinaram, sentiram dores, sofreram, abriram mão de muitas coisas e querem a medalha de ouro, óbvio. Quem chegar em primeiro, obterá a glória e será exaltado, óbvio também. Mas e aquele que chegar em último, merece ser ignorado? Ser chamado de preguiçoso? Ouvir que só chegou em último porque “não foi capaz de se superar?” Pra mim, isso é óbvio que não! Provavelmente, esse atleta que chegou em último foi o que mais se superou para simplesmente poder estar ali! Porque teve as condições de treino mais desfavoráveis ou até mesmo porque seu corpo, por mais que ele faça melhor a cada dia, não tem condições de ir além. Ele não ganhará a medalha, não será noticia. Mas será que não merece também ser exaltado? E aquele que chegou em primeiro, só merece incentivos depois de ganhar a medalha? Todo o caminho que ele percorreu para chegar até aquele momento não merecia incentivos também?

Eu não sei se usei adequadamente a analogia, mas o que eu gostaria de trazer à reflexão é o fato de que muitas pessoas se superam diariamente. E isso nem é exclusividade de quem tem alguma deficiência, esclerose múltipla, outra doença qualquer ou mesmo dificuldades financeiras. Todos nós de alguma forma nos superamos em algum momento da vida.

Algumas pessoas, por mais que lutem bravamente contra as suas dificuldades, que nunca desistam, que inventem sempre novas formas de se realizar, simplesmente não atingem as vitórias que esperam. Porque a vida definitivamente não é igual pra todo mundo. Mesmo fazendo o mesmo esforço, não se obtém os mesmos resultados. Até porque também podem ter expectativas diferentes. E a falta de vitórias nem sempre significa fracasso.

Por isso, nunca compare uma pessoa com outra. Nunca diga a uma pessoa com EM (por exemplo) que o fulano também tem a mesma doença e consegue fazer tal coisa que você não faz. Nunca diga: “fulano tá pior do que você (fisicamente) mas trabalha, ou estuda, é mais disposto, mais ágil, mais feliz ou qualquer outro “mais”. Porque se a doença se manifesta de forma diferente em cada um, se esse ou aquele tratamento funciona ou deixa de funcionar de forma diferente em cada um, cada um reage de sua forma, cada um tem sua própria história, suas crenças, seu nível de instrução, sua capacidade de entendimento, sua condição financeira, sua dinâmica familiar, seus desejos, seus recursos, suas necessidades e limitações.

Você pode achar que é um fracasso o fato de eu não conseguir usar um abridor de latas.  Enquanto eu considero uma vitória ser capaz de cozinhar todos os dias apesar das dores nas costas e pernas e do calor à beira do fogão. E já inventaram latas mais fáceis de abrir que não usam abridor.

A vida não é igual pra todo mundo. Valorizar pequenas conquistas, não desmerecer as tentativas apesar das falhas, não julgar e principalmente não fazer comparações são ações que servem em qualquer ocasião e para qualquer pessoa.

Abraços e até a próxima!

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