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Oi Amigos

Hoje predomina no sistema educacional um relacionamento educador-educando analogamente, segundo Freire, a uma relação bancária. É uma relação depositante (educador) e depositário (educandos).

Esse sistema se sustenta por uma comunicação voltada a narração e a dissertação ou a discursos que partem de uma fonte para outra, num único sentido. Esta situação tem uma característica estática, sem mobilidade. O aprendizado é manipulado por quem faz os discursos e prima por incentivar a memorização. Por isso a grande ênfase na sonoridade, na repetição e não em uma proposta transformadora e crítica.

Esta característica estática gera “alienação pela ignorância” conforme escreve Freire.

Como o depositário não percebe sua formação estática, não-questionadora, acaba por aceitar de forma incondicional os elementos que são passados neste processo de pseudo-aprendizagem.

A atitude de não-questionar é interessante para as elites que dominam o sistema porque mantém o “status quo ” e mantém o domínio desses dominantes. Segundo Freire: “nenhuma ordem opressora suportaria que os oprimidos todos passassem a perguntar: Por que?”

Há outra característica deste sistema bancário de educar: o arquivamento de informações (os depósitos). Este arquivamento aliado a estaticidade da proposta, impede a criatividade do educando e sua transformação intelectual.

A estagnação da dimensão criativa do ser humano leva ao sofrimento. Segundo Freire, “ao obstaculizar a atuação dos homens, como sujeitos de sua ação, como seres de opção, frusta-os” por isso sofrem. Este sofrimento provém do fato de se haver perturbado o equilíbrio humano. Este sofrimento desumaniza a pessoa humana, exigindo uma resposta libertadora a tais mecanismos de sustentação e alienação da estrutura dominante de poder.

Questionar este sistema bancário deve pelo menos ser sensível aos humanistas. Não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que a proposta de mudança partirá das elites dominantes. É de responsabilidade dos humanistas, lutarem contra esta concepção bancária da educação por motivos de coerência ideológica, pois esta concepção vai de contra a qualquer valor humanitário, diminuindo e estagnando a pessoa humana como sujeito histórico social e agente de mudanças. O humanismo consiste em permitir a tomada de consciência de nossa plena humanidade, como condição e obrigação: como situação e projeto”.

Esta re-humanização, que chamaríamos ao processo de libertação da alienação, não é algo teórico e discursivo. Deve ser uma práxis que leva a ações e reflexões, levando com isso a uma abertura de visão das estruturas do aprendizado e necessariamente a questionamentos e exigências de ações modificadoras destas estruturas. Segundo Freire, “a libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo”.

A educação problematizadora aparece, segundo Freire, como proposta de uma oposição a concepção bancária de educação, construindo consciência e conscientização e por isso de caráter libertador.

Problematizar é perceber as estruturas de determinado tema ou situação. Esta percepção não se dá em um movimento unilateral educador-educando, como é o caso da concepção bancária. Este problematizar acontece através do relacionamento participativo, onde educador educa e é educado, e educando é educado e educa. Esta interdependência permite a superação da contradição entre educador e educando tornando os dois parte de um mesmo processo de aprendizado.

A interdependência vai discutir e provocar a consciência de ambas as partes. Segundo freire, “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Portanto, o processo de aprendizado é algo contínuo, aberto e indefinido. A única certeza é a incerteza, e por isso não podemos limitar, nem definir, os caminhos do aprendizado por aquilo que acreditamos, sob pena de estarmos alienando e regulando o crescimento intelectual humano. Aprender de forma consciente é a essência do ser.

O conhecimento se faz pela “emersão das consciências que resulta na inserção crítica da realidade”. Conforme escreveu Jean-Paul Sartre, “a consciência e o mundo se dão ao mesmo tempo: exterior por essência à consciência, o mundo é, por essência, relativo a ela.

A pessoa humana é um “ser inconcluso, consciente de sua inconclusão”, por isso buscará sempre questionar e se realizar em sua existência. Conforme escreveu Heidegger, “existir é um constante indagar do ser-no-mundo (dasein)”.

Por fim, a conscientização é o único caminho para um aprendizado que humaniza o educando, o educador e a sociedade em si, permitindo os questionamentos como forma modificadora e inspiradora de mudança e transformação.

Problematizar é o primeiro passo para uma concepção educacional humanizadora e libertária. A continuidade desta conscientização, e por que não dizer, a metodologia desta concepção, acontece pelo diálogo entre educando-educador.

Existem dois pressupostos para iniciar um diálogo com intuito educativo, são eles:

  • Amor ao humano: segundo Freire, “o amor é compromisso com os homens, o ato de amor está em comprometer-se com sua causa. A causa de sua libertação. Este compromisso, porque é amoroso, é dialógico”.
  • Fé no humano: Freire também escreve, que “Não há diálogo, se não há intensa fé nos homens. Fé no seu poder de fazer e refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens. A fé nos homens é um dado a priori do diálogo”.

O diálogo deve acontecer com as seguintes motivações e preocupações:

  • Compreensão do universo das partes: Tomás de Aquino apresentou a idéia de que “em um diálogo, deve-se primeiramente afinar os conceitos”. Portanto é necessário compreender os conhecimentos, as percepções, os propósitos e até mesmo as limitações culturais do educando e do educador. É um processo de conhecimento para direcionar o processo dialético que virá a seguir. Este aspecto é o que Paulo Freire chamará de “momentos de investigação”.
  • Liberdade intelectual: sem liberdade não existe diálogo, e sim monólogo. É preciso ter plena liberdade de apresentar seus questionamentos, suas críticas e dúvidas para que o processo de aprendizado não seja superficial.
  • Dialética de aprendizado e transformação: este diálogo tem um fim claramente definido, o de realizar o aprendizado pela consciência através da conscientização, aproximando assim a concepção de mundo do educando e do educador da realidade. Quaisquer outras motivações e objetivos não fazem parte de uma concepção educacional, como seria o caso, por exemplo, de diálogos apologéticos extremos.
  • Práxis: é papel do diálogo conduzir a uma práxis conscientizadora e atuante, como agente transformador e realizador da existência humana. O crescimento e o aprimoramento educacional passam pela realidade concreta humana e devem influenciá-la, caso contrário, caímos novamente na concepção bancária da educação.

É pela prática do diálogo pedagógico e intelectualmente honesto (pressupostos do diálogo) que se realiza a educação problematizadora. Esta é um processo de libertação e de realização humana. Não propomos aqui um método educacional e sim uma postura que tem como princípio fundamental o direito da pessoa de ser humana no sentido existencial da palavra.

Um abraço

Rodrigo

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