Medidas não medicamentosas para o tratamento sintomático da esclerose múltipla

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De uma forma geral, dividimos o tratamento da esclerose múltipla em imunomodulador e sintomático. O primeiro visa controlar o efeito do sistema imune sobre os neurônios e assim reduzir a progressão da doença e o segundo tem como intenção tratar dos sintomas já provocados. Enquanto muito se fala e se discute sobre o tratamento imunomodulador, desde qual medicamento usar, em que momento iniciar seu uso, como monitorar, quando trocar e até mesmo qual o momento para interrompê-lo, é importante ressaltar que os sintomas do paciente podem receber intervenção direta com foco em melhora funcional e qualidade de vida em paralelo à medicação modificadora do sistema imunológico.

Dentre os sintomas apresentados podemos citar alguns: fadiga, perda de força,  lentificação da marcha, alterações urinárias, alterações de hábito intestinal, dificuldades de coordenação, tremor, dificuldades de raciocínio e memória, dores variadas de origem muscular ou neurológica (como queimação, sensação de aperto, choques ou formigamento), espasmos e alterações de comportamento. O tipo e gravidade de cada comprometimento é variável, e não necessariamente todos os pacientes apresentarão estes sintomas, assim como o mesmo sintoma pode se apresentar de forma variada de um paciente a outro.

O tratamento destes sintomas pode envolver o uso de medicamentos ou simplesmente mudanças de estilo de vida e adaptações cotidianas que  já oferecem alívio e melhora. Além disso o envolvimento de uma equipe multiprofissional pode oferecer recompensas ainda maiores do que apenas a intervenção do neurologista clínico, que pode recorrer ao auxílio de um fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, educador físico, psicólogo, enfermeiro e até outros médicos, como urologista, ginecologista, fisiatra e psiquiatra, para citar apenas alguns.

Como comentado, algumas medicações podem oferecer alívio aos sintomas postos acima, mas estas são melhores discutidas entre o paciente e o médico neurologista. Adianto algumas dicas que podem ser implementadas e discutidas com o médico posteriormente:

•    Fadiga: procure  dividir seu dia em blocos, ou etapas, para dividir suas tarefas, e guardar momentos para repousos de 20 minutos em algum lugar arejado e fresco. Este pequeno tempo ao final da manhã e no meio da tarde podem ser suficientemente revigorantes. Evite atividades de esforço em horas de maior calor, como perto do meio dia, pois alguns pacientes são sensíveis a temperaturas elevadas. Um programa de atividade físicas é essencial, e deve incluir atividades aeróbicas de baixo impacto e até mesmo musculação, desde que com pouca carga e muitas repetições. Os exercícios devem ser iniciados com calma, sem muito desgaste nas semanas iniciais, e incrementados aos poucos. Um exemplo é um programa de caminhada, que pode se iniciar com 20 ou 30 minutos ao dia e incrementando 10 minutos a cada mês, por exemplo.

•    Perda de força ou lentificação da marcha: vale as recomendações postas acima, mas aqui o auxilio de um fisioterapeuta ou educador físico pode ser essencial.

•    Alterações urinárias: é importante aprender sobre o funcionamento de seu organismo, e isso incluí perceber o intervalo de horas que sua bexiga aguenta sem precisar ir ao banheiro, de forma que você possa se programar e evitar constrangimentos. Para aqueles que urinam com muita frequência, principalmente despertam a noite por este motivo, recomenda-se evitar líquidos em excesso no fim do dia, principalmente café, chá, chocolate e bebidas alcoólicas, pois são todos diuréticos. Para aqueles que têm a sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, uma caminhada de 1 a 2 minutos logo após urinar pode ser suficiente para estimular o esvaziamento do resto da bexiga. Alguns medicamentos são utilizados nestes casos, devendo discutir as opções com seu médico. Algumas vezes um estudo urodinâmico da micção pode ser necessário para definir a melhor abordagem.

•    Alterações intestinais: muito comum pode ser a constipação, então, uma dieta balanceada com frutas, legumes, verduras e fibras (aveia e quinoa podem ajudar) além de boa hidratação são essenciais.

•    Alteração de coordenação e tremor: aqui valem as mesmas sugestões em relação a fadiga e perda de força, pois o fortalecimento muscular pode reduzir o tremor e auxiliar na coordenação, mas uma discussão com seu médico sobre outras alternativas também é importante.

•    Alterações de raciocínio, memória e comportamento: a queixa de memória pode ser um grande incomodo para muitos pacientes. A primeira estratégia para auxiliar neste ponto é a realização de listas de tarefas (eu mesmo tenho uma em meu telefone e computador), de forma que você possa “se ajudar a se lembrar”. É importante dizer que a ansiedade, depressão e dificuldade de dormir são também situações que influenciam na memória, então uma boa manutenção em sua rotina diária e muita conversa com família e amigos é importante para se manter mais tranquilo, e com isso evitar situações de estresse que podem agravar a memória. O tratamento de depressão, ansiedade e alterações do sono podem depender de medicamentos, e isto deve ser sempre discutido com seu médico.

•    Alterações de sensibilidade, dores e espasmos: estes incômodos sintomas devem ser discutidos sempre, pois seu tratamento envolve o uso de medicações. Vale comentar que, às vezes, a dose de medicamentos necessários para tratá-los pode ser alta, provocando efeitos colaterais indesejados como sonolência. Cabe a cada paciente definir com seu médico o plano de tratamento. Algumas dores podem piorar no inverno e melhorar no verão, logo, a dose de cada medicamento pode mudar de acordo com a estação do ano.

Volto a comentar que nem todos os pacientes apresentarão os sintomas postos acima, assim como a forma de abordá-los e influência nas atividades do dia-a-dia podem variar de uma pessoa a outra. Além de discutir estes incômodos com seu médico, pode ser interessante traçar um plano de ação graduando os sintomas de acordo com sua prioridade de intervenção, como do mais incomodo para o menos incomodo, e discutir as metas para este tratamento, de forma a estruturar melhor o cuidado e poder dividir cada etapa com seu médico e sua família.

Esse texto foi originalmente publicado no site esclerosemultipla.com.br em 2014. Todos os direitos reservados ao autor.

 

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