Acesso e generosidade

Compartilhe este post

Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter

Muitas vezes desejei – e pedi perdão a Deus por isso – ter uma deficiência visível. Não poder andar ou algo assim. Sim, isso é horrível, mas vou tentar explicar.

A fadiga é invisível. Formigamentos e dormências são invisíveis. Dor é invisível. E o que é invisível é também subjetivo, difícil de mensurar. Se a E.M. já se parece com “desculpa de preguiçoso”, quando os sintomas não são vistos, além de preguiçosos, passamos também por aproveitadores.

Neste mês em que falamos tanto sobre acessibilidade,gostaria de falar sobre esse outro aspecto: o de ter a todo instante ficar provando que tenho necessidades especiais, que necessito de acesso especial. Isso é frustrante e muito cansativo.

Exemplificando: Eu caminho muito até para alguém nas minhas condições, paro toda vez que me sinto cansada, sento onde é possível – até no chão se não houver outra opção – mas ficar parada em pé numa fila por mais de 5 minutos é muito difícil. Num ônibus, ficar em pé é risco de queda na certa. Porém, ao entrar numa fila preferencial, ou usar os assentos preferenciais do ônibus, tenho que suportar olhares de reprovação, comentários maldosos e ás vezes até enfrentar confusão. E é por essas e outras que muitas vezes acabo não exigindo o que me é de direito, prefiro sofrer um pouco mais que ter que ficar me explicando.

Acessibilidade deve vir do poder público, possibilitando que qualquer pessoa, seja qual for a sua limitação, possa usufruir todo e qualquer espaço público. Mas também deve vir da generosidade das pessoas que tendem a julgar e condenar antes de procurar entender. Um olhar mais fraterno – e atento – antes de atirar pedras.

Nosso papel é esse. Informar o maior número de pessoas possível para que, conhecendo que existem pessoas que embora não aparentem, precisam de atendimento e acesso diferenciado. Informar que as nossas limitações não estão tatuadas na testa, mas as temos, assim como o direito de qualquer pessoa a fazer compras, pagar contas, passear no parque, assistir um show, divertir-se.

Não queremos só acesso aos espaços, queremos acesso ao coração das pessoas. Que cada ser humano olhe para outro ser humano com generosidade e afeto.

Explore mais